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Como analisar a viabilidade de novas tecnologias na construção?

Por Luiz Henrique Ceotto


Temos disponíveis no Brasil a maior parte das tecnologias usadas no mundo para tornar a construção com alta produtividade e alta qualidade, mas essas tecnologias estão sendo muito pouco usadas. A industrialização e a implantação de novas tecnologias na construção já poderia ser uma realidade, com enormes benefícios a todos, entretanto continuamos patinando em processos artesanais, de baixa produtividade, alto desperdício, baixo desempenho e de longos ciclos de produção. Após muitas conversas com empresas nos últimos anos, vi que um dos principais motivos desse tradicionalismo se deve ao desconhecimento de um processo de análise dessas tecnologias. Vejo excelentes tecnologias serem descartas de forma simplista com a reflexão em um único item, o custo direto obtido na nova tecnologia comparado com o processo convencional.

Numa análise bastante simples é fácil elencarmos pelo menos 15 itens que deveriam ser discutidos antes de uma decisão, mas a análise somente pelo custo direto nenhuma tecnologia desenvolvida nos últimos 100 anos ganharia do adobe o do pau-a-pique.

A figura anexa mostra um fluxo de análise que tenho usado para viabilizar novas tecnologias na construção. Dependendo do processo construtivo analisado deverão ser adicionados mais itens de análise, mas raramente os itens desse gráfico poderão ser descartados.



Explicando o fluxo

Desde os primórdios da engenharia, pelo menos duas grandes abordagens de análise têm que ser feitas: Custos e Riscos.

Custos: se dividem em custos diretos, que dizem respeito aos custos advindos do consumo de materiais e mão de obra diretamente ligados a atividade e os custos indiretos que dizem respeito aos custos induzidos na obra decorrente de novos prazos, custos de outros sistemas de construção que serão impactados pela tecnologia que esta sendo estudada, custos de operação do edifício na sua vida útil, etc.

Riscos: se dividem em impactos positivos ou negativos na qualidade, desempenho, assistência técnica, disponibilidade de fornecedores alternativos, percepção do cliente, etc. Muitas vezes temos uma redução dos riscos envolvidos, mas podem haver algum risco novo identificado que precisa ser mitigado. A análise da mitigação de riscos é o principal foco quando se aborda a adoção de novos sistemas.

Outros aspectos: além dos custos e riscos existem outros aspectos que precisam ser contemplados e que variam em função da tecnologia estudada. Normalmente dizem respeito ao planejamento físico (sequencia, trajetória e condições de inicio de cada atividade), canteiro de obras, sistemas de transporte e elevação,  flexibilidade do uso desse novo sistema, sustentabilidade ambiental (ciclo de vida útil, resíduos, etc), sustentabilidade humana (redução das tarefas penosas, possibilidade de acidentes, valorização da profissão, etc), bem como das tendências tecnológicas, de hábitos da população, de escassez de insumos, etc.

Essa análise deve ser feita em grupo, com a participação do pessoal mais experiente, evitando-se ao máximo na discussão respostas por preconceitos e medos sem fundamento, mas também entusiasmos desmedidos.

Muito cuidado com respostas fáceis. Análise de novas tecnologias na construção não é um assunto complexo, mas necessita de experiência e muito raciocínio de causa e efeito. Tenham paciência e tenham prazer nessa análise, registrando tudo o que é esperado do sistema que, caso seja implantado, deverá ser verificado e confirmado. Vocês aprenderão muito com esse processo.

A qualidade do resultado vai depender da profundidade e extensão da análise. Na minha vida profissional tenho viabilizado e desenvolvido muitas tecnologias com o uso desse fluxo e creio que poderá ser útil também para todos vocês.

Também é importante salientar que análise tecnológica deve ser feita antes de se gerar as diretrizes de projeto e nunca durante a obra, com o projeto pronto e a maioria das decisões tomadas. Para se aproveitar uma tecnologia em toda a sua extensão deve-se contemplar no projeto toda análise feita, principalmente nas medidas que devem ser implementadas no projeto, no planejamento e no canteiro de obra para a sua correta implementação.

Nos próximos artigos vou trazer exemplo de novas tecnologias na construção analisadas com esse critério.

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